FUNILARIA E PINTURA, COMO CALCULAR O CUSTO DOS SERVIÇOS VENDIDOS
- custoseganhosconsu
- 29 de out. de 2024
- 7 min de leitura
Como calcular o Custo dos Serviços Vendidos em uma funilaria e pintura? A atividade de funilaria varia desde pequenos estabelecimentos, como aqueles em esquinas de bairros, até grandes funilarias que atendem volumes maiores de veículos, com estrutura e instalações especializadas.
Hoje, neste trabalho, vamos focar em empresas de funilaria e pintura de pequeno porte, a maioria familiares, com pouca estrutura, que carecem de ferramentas administrativas para obter uma visão clara da demonstração de resultados, incluindo receita, impostos, custo dos serviços vendidos, margem bruta, despesas operacionais e resultado operacional.
Em uma funilaria de pequeno porte, com um faturamento em torno de R$ 100 mil por mês, o custo dos serviços vendidos costuma oscilar em torno de 50% da receita. Deduzindo a carga tributária, que gira em torno dos habituais 10%, esse negócio deve gerar uma margem bruta em torno de 40%.
Claro que isso varia de empresa para empresa, especialmente em estabelecimentos menores, onde há certo grau de informalidade. Portanto, essa estrutura clássica de 10% para impostos e 50% para custos, resultando em uma margem de 40%, serve apenas como uma referência para nosso raciocínio.
Prosseguindo com essa estrutura, as despesas fixas, incluindo salários e despesas gerais e administrativas, devem estar em torno de 30% para que a operação gere um resultado de pelo menos 10%. Essa é, provavelmente, a estrutura de resultado mais comum em funilarias e pinturas deste porte.
Pois bem, ao analisar os 50% do custo dos serviços vendidos, temos duas contas relevantes: o custo dos materiais e o custo da mão de obra. Se achar necessário, você pode até dividir o custo dos materiais em materiais diretos e indiretos. Da mesma forma, a mão de obra pode ser dividida em direta e indireta. Se essa separação gera confusão, é melhor manter de forma mais simples, apenas como custo dos materiais e custo da mão de obra.
Materiais como tintas, vernizes, catalisadores, endurecedores, solventes, máscaras, luvas, aventais, fitas adesivas, lonas plásticas, desengraxantes, pistolas de pintura, polidores, filtros de ar para compressores, chapas de aço, estanho, lixas, massa plástica, primer, fundo, diluentes, eletrodos para solda, adesivos estruturais, esticadores, grampos, entre outros, podem ser classificados na conta de Custo dos Materiais.
O custo com a mão de obra costuma estar 100% dentro da folha de pagamento, sem separação entre direta ou indireta, fixa ou variável, ou salários da administração. Está tudo agrupado em uma única conta. Neste caso, para evitar complicações, pode-se, inicialmente, alocar toda a folha na conta de custo de mão de obra. Não há problema, o importante é que esteja classificado em alguma conta.
Mais tarde, à medida que avançar na análise dos resultados, você perceberá que contas de naturezas diferentes estão misturadas, e sentirá a necessidade de classificá-las melhor. Quando isso acontecer, ao chegar nesse ponto, você pode combinar com a pessoa responsável pela folha de pagamento para separar o custo da mão de obra envolvida na produção, das despesas com a folha da administração. Nesses momentos, não hesite em recorrer a conselhos de especialistas, que podem ajudar a orientar o melhor caminho para a parametrização no seu sistema.
Os salários de funções como funileiro, preparador de pintura, pintor, lanterneiro, mecânico de funilaria, polidor, montador, auxiliar de funilaria e pintura, orçamentista, chefe de oficina, entre outros, que são as pessoas que trabalham diretamente na atividade principal da empresa, podem ser classificados na conta de Custo da Mão de Obra. O restante do pessoal pode ser alocado nos Gastos Gerais e Administrativos, que são áreas de apoio à produção. Também é possível incluir na conta de Custo da Mão de Obra os pagamentos para autônomos e freelancers, se for o caso.
Agora, e quanto à aquisição de máquinas, equipamentos e instalações? No caso de equipamentos de alto valor, como compressor de ar, cabine de pintura, secadores infravermelhos, solda MIG, puxadores, lixadeiras, ou instalações elétricas, hidráulicas e de iluminação, como esses gastos devem ser classificados? Veja, se você contabilizar o valor total da aquisição no custo do mês, isso vai inflar os custos daquele período, concorda? Portanto, quando se adquire um bem de alto valor, com vida útil prolongada, o seu custo deve ser alocado conforme a duração da vida útil. Esse é o conceito. Porém, pela legislação, um equipamento ou uma máquina geralmente se deprecia ao longo de 10 anos.
E se você adquirir esses equipamentos por meio de um financiamento em 60 parcelas pelo cartão BNDES, por exemplo? O pagamento das prestações entra na composição do custo dos serviços vendidos? A resposta, nesse caso, é não. As prestações fazem parte do seu fluxo de caixa, mas não devem ser confundidas com o custo, pois o valor dos equipamentos deve ser alocado ao custo conforme a sua durabilidade. Na contabilidade gerencial, você pode definir o número de meses em que deseja recuperar o valor. Se a escolha for depreciar em 5 anos, exatamente no mesmo prazo do financiamento, isso é uma escolha e decisão do gestor, e concordo que facilita o controle.
Mas como lançar esses valores na planilha de custo? Vamos supor que, para iniciar a funilaria, o investimento foi de R$ 180 mil. Se o empreendedor deseja ver o investimento retornar em 5 anos, o custo mensal da depreciação desses R$ 180 mil em 60 meses seria de R$ 3 mil. Isso mesmo: esses R$ 3 mil estariam presentes todos os meses no custo, independentemente da quantidade de veículos atendidos.
O lançamento pode ser feito da seguinte forma: as notas de aquisição que somaram os R$ 180 mil devem ser lançadas no seu sistema, debitando uma conta do ativo imobilizado e creditando fornecedores a pagar ou financiamento a pagar. Esse é o lançamento que registra a entrada desses ativos na empresa. O pagamento das parcelas será o próximo lançamento. A cada parcela, você credita a conta caixa/banco e debita fornecedores a pagar. Esse procedimento também se aplica caso você tenha adquirido os ativos à vista, em um único pagamento.
Note que, até aqui, não falamos nada sobre custo. E perceba que também não discutimos contas de resultado; nenhum valor até agora “desceu” para despesa. A aquisição, assim como o pagamento, transita nas contas patrimoniais, na metade superior do quadrante. A partir daqui, vamos apropriar a fração da depreciação que você escolheu. Se for em 5 anos, você credita aqueles R$ 3 mil na conta de depreciação dos equipamentos, no ativo imobilizado, e debita, aí sim, a conta Custo da Depreciação, na metade inferior, do lado esquerdo, onde ficam os custos e as despesas. É assim que aquele imobilizado “desce” para o resultado.
Isso se aplica ao sistema contábil. Mas e quem faz o controle gerencial na planilha eletrônica? Na planilha financeira, ao adquirir o ativo, você lança na conta caixa, atribuindo um código para dar entrada no “imobilizado” e outro código para dar saída no “passivo”. Veja bem, na parte superior do seu demonstrativo de resultados, serão acrescentadas duas linhas com as contas do “balanço patrimonial”: uma linha para “Ativo Imobilizado” e outra para “Fornecedores a Pagar” no grupo do passivo.
Você acha complicado? Pois é, esse é o pequeno esforço necessário caso você pretenda manter ao menos um controle básico. Você tem duas opções: a primeira é migrar gradativamente, da planilha para um sistema. Comece pequeno e, à medida que for crescendo, suas operações ganharão volume e complexidade, até que você domine o processo completo com ferramentas de gestão financeira.
Ou você tem a segunda opção, que seria, enquanto ainda na operação modesta, você pode simplesmente estimar o valor dessas depreciações e manter um valor fixo no seu custo. Como assim? É você simplesmente chuta um valor, faz um levantamento de quanto mais ou menos precisa em máquinas, equipamentos e instalações para funcionar a sua funilaria. Vamos supor que você chegou ao valor de R$ 240 mil. Se pretende recuperar isso em 5 anos, basta dividir os R$ 240 mil em 60 meses, apropriando R$ 4 mil todos os meses como custo dos equipamentos. Se quiser que o retorno ocorra em 4 anos, é só apropriar R$ 5 mil por mês. É uma forma bem simples, quase como um rascunho feito nas cochas, mas dá para trabalhar, pois segue um raciocínio lógico e coerente.
Agora, e quanto aos equipamentos adquiridos posteriormente? A menos que sejam de valor muito alto, você pode deixá-los de lado. O seu custo já contempla um valor razoável com folga, então não há necessidade de ficar atualizando cada bem adquirido. No entanto, recomendamos que você mantenha, pelo menos, uma relação das máquinas, com data de aquisição e valor. Faça uma revisão desta lista uma vez por ano, como um balanço de final de ano, e aproveite para atualizar o valor mensal que está lançando na conta Despesa de Depreciação.
Muito bem. Agora quero ver, como incluir esse valor mensal, de despesa de depreciação, na planilha de orçamento, ao estimar o valor do serviço de funilaria, para apresentar ao cliente. Vamos lá, essa é a melhor parte deste trabalho. A melhor forma de apropriar o custo é transformar o custo mensal em custo por hora. Se você estimar seu orçamento com base na hora do serviço, terá uma base bem razoável para alocar a fração do custo de depreciação das máquinas.
Vamos pegar aqueles R$ 4 mil mensais de despesa com depreciação. Primeiro, você estima o total de horas da sua mão de obra diretamente envolvida na funilaria e pintura. Vamos supor que o número de funcionários seja 10. Multiplique por horas líquidas trabalhadas no mês, normalmente em torno de 176 horas. Vai dar um total de 1.760 R$ 2,27 por hora. Pode arredondar para R$ 2,30 se quiser. Pronto, este será o seu custo por hora da depreciação.
A partir desse valor, fica muito fácil preencher a planilha de orçamento. Aliás, você pode usar esse raciocínio do custo por hora para estimar outros custos, como o custo da mão de obra indireta, se for o caso. Também pode aplicá-lo para estimar os materiais indiretos, aqueles de difícil mensuração; você estima o valor mensal e transforma em custo por hora. Você pode questionar: “Mas o custo dos materiais não tem relação com as horas de serviço.” E você está certo. No entanto, se considerar que, de um modo geral, o trabalho que demanda mais horas de execução também consome mais materiais indiretos, isso faz sentido e é uma forma de absorver esses custos de difícil mensuração. A escolha final é de cada empreendedor. Aqui, estamos apenas oferecendo alternativas que podem ser úteis.
Então, até aqui, a estrutura do seu demonstrativo de resultados está assim: Receita, Impostos, Custo dos Materiais, Custo com Mão de Obra e Custo das Depreciações. Com isso, você chega à apuração da Margem de Contribuição. Após a Margem de Contribuição, são abatidas as Despesas Fixas ou Despesas Gerais e Administrativas, resultando no Lucro Operacional. É importante que você enxergue quanto a sua operação está gerando de resultado.
Os gastos não operacionais, como despesas financeiras, amortização de empréstimos, pagamento de parcelamentos de impostos, se houver, dividendos ou adiantamento de lucro, devem ser lançados após o resultado da operação. Isso ajuda a deixar clara a separação entre os recursos destinados para a operação e aqueles destinados a cobrir os gastos não operacionais.
Veja também no you tube:
Comments